No post de hoje, vamos descobrir, juntos, o arquétipo da Cleópatra, a saber, um arquétipo feminino e sempre polêmico, despertando, mais recentemente, um fascínio novo nas mulheres do século XXI.
Além disso, as leitoras do blog também poderão aprender a ativar o poder do arquétipo da Cleópatra em suas vidas no dia a dia.
ARQUÉTIPOS "MASCULINOS" E "FEMININOS" SÃO FORÇAS DO INCONSCIENTE
Contudo, não há restrições a respeito do uso do arquétipo da Cleópatra pelos nossos leitores, já que, na teoria do psiquiatra Carl Gustav Jung, “masculino” ou “feminino” não tem a ver com sexo biológico ou gênero, e sim com forças do inconsciente. Dessa maneira, para o fundador da psicologia analítica, são forças opostas, porém complementares. Isto é, as forças masculinas e femininas do inconsciente estão presentes em todas as pessoas. Aliás, para o mestre suíço é fundamental que tais forças estejam em equilíbrio e harmonia, para que cada um de nós alcance a integração.
Dito isso, é natural que uma parte das leitoras se sintam mais confortáveis em se aproximarem de um arquétipo feminino, embora não haja regras. Até pelo caráter de representatividade que Cleópatra teve na Antiguidade. No entanto, outra parte das leitoras podem se sentir inexplicavelmente atraídas por arquétipos masculinos. E tudo bem. E a mesmíssima questão também é verdadeira, de modo inverso, para os homens.
QUEM FOI, AFINAL, CLEÓPATRA?
Muito pouco se sabe sobre quem realmente foi Cleópatra, uma vez que os documentos históricos são escassos. Ou seja, sua imagem está envolta numa neblina que não é possível transpor. Cenário perfeito, diga-se de passagem, para que a especulação mítica floresça.
Ao mesmo tempo, quem nos conta o pouco que sabemos são historiadores romanos, comprometidos com a propaganda oficial do reinado do imperador romano Otávio Augusto (27 a.C.-14 a.D.).
Assim, é a partir desses relatos tendenciosos que o imaginário em torno de Cleópatra foi construído ao longo dos séculos.
Mas estamos mais interessados no Mito que Cleópatra se tornou. Além do mais, esse não é o espaço mais indicado para debates da historiografia contemporâneo, nem eu tenho habilidades e titulações acadêmicas para isso.
Cleópatra não é apenas uma personagem histórica: ela adquiriu igualmente, após sua morte,
da época romana aos nossos dias, a condição de figura mítica.
Schwentzel, Christian-Georges; Cleópatra ; tradução de Paulo Neves. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.
ELIZABETH TAYLOR REPRESENTA O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA
A rainha do Egito já havia sido pintada (com liberdade poética, é claro) por diversos artistas europeus no decorrer dos séculos. Mas a sua representação também ocorreu por meios mais fidedignos, como, por exemplo, em moedas, o que data mais ou menos da época em que viveu.
Entretanto, para nós, modernos, tudo mudou com o filme Cleópatra (1963), dirigido por Joseph Mankiewicz. Essa obra foi estrelada por Elizabeth Taylor, no papel da rainha egípcia, Richard Burton, como general Marco Antônio, e Rex Harrison, interpretando o imperador Júlio César.
Mas o que chamou a atenção foi o fato de que Taylor e Burton, ambos casados, protagonizaram um romance à época, o que foi considerado um escândalo. No entanto, chegaram a se casar mais tarde, mais de uma vez, inclusive, e viveram entre idas e vindas por mais de 20 anos.
Além disso, também foi o filme mais caro até então já feito, o que quase levou a 20th Century Fox à falência, haja vista que o retorno nas bilheterias não foi o esperado, e a crítica também não foi muito generosa. E como se não bastasse, houve vários problemas durante o processo de produção do filme.
LIZ TAYLOR E O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA SÃO UM SÓ
Não obstante todos esses percalços, a beleza estonteante de Liz Taylor selou definitivamente a imagem que temos de Cleópatra (lembre-se, estamos falando do mito, a fonte de seu poder arquetípico), uma vez que Liz já foi descrita como a “encarnação da beleza“. Mas não é só por isso, isto é, também é digno de nota: suas interpretações viscerais, que lhe renderam o óscar; sua paixão por joias caríssimas; sua vida pessoal turbulenta e intensa, com oito casamentos… enfim, ela não só deu vida a um arquétipo, como a sintonia entre a sua biografia e o arquétipo foi tão natural que um e outro se amalgamaram.
Elizabeth Taylor é a forma, e as qualidades fundamentais desse símbolo, o conteúdo. Dessa simbiose, o arquétipo da Cleópatra saiu renovado…
CLEÓPATRA ERA NEGRA?
Todavia, a representação de Liz Taylor no cinema levanta uma questão sobre a etnia de Cleópatra.
Assim, por Cleópatra ter sido uma rainha egípcia, alguns afirmam que ela era negra. Entretanto, por Cleópatra descender da dinastia ptolomaica, isto é, de origem grega, outras já afirmam que ela era branca. Dessa forma, para corroborar essa última tese, ainda citam o fato de que, na dinastia de Ptolomeu, os casamentos ocorriam entre meios-irmãos, para evitar que o poder real se dissipasse, conservando a crença nos súditos de que eles eram deuses. Esse costume, certamente, desestimulava a miscigenação. De qualquer forma, não há como afirmar com certeza a “raça” (sentido cultural) de Cleópatra. Ainda assim, atualmente, a especulação mais provável é de que ela fosse etnicamente mista, incluindo gregos, persas e egípcios. Essa especulação se dá porque a análise da ossada de Arsínoe, irmã de Cleópatra, indicou tal mistura. Porém, não sabemos quem foi a mãe de Cleópatra, apenas o pai. Por isso a incerteza a esse respeito permanece.
Contudo, caso tenham ficado curiosos, é possível saber mais clicando aqui e aqui.
Arquétipo de Cleópatra é sedução astúcia poder
O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA: UMA PERSONALIDADE CATIVANTE
Costuma-se dizer que as mulheres são as mais pressionadas para se enquadrarem num padrão estético imposto pela sociedade. Apesar disso, Cleópatra foi a prova viva de que beleza física não é tudo. De acordo com relatos históricas, a rainha não era bonita. Não obstante, essa aparente desvantagem não a impediu de exercer sua enorme influência sobre os homens, alçando-se ao patamar de arquétipo da sedução.
Então, como ela conseguiu tamanha proeza num mundo em que somos injustamente julgados pela nossa aparência?
A resposta está em sua personalidade cativante o bastante para arrebatar homens poderosíssimos, como Júlio César e Marco Antônio. Em outras palavras, ela sabia se impor, de forma suave e não agressiva, e tinha presença de espírito, tornando-se o centro das atenções nos ambientes pelos quais ela circulava.
Mas se engana quem pensa que a jovem mulher desprezava o conhecimento, pelo contrário! Ela tinha uma inteligência refinada que encantava a todos, haja vista que, como descendente da linhagem ptolomaica, orgulhava-se de ser a porta-voz do helenismo e a herdeira da filosofia e das artes gregas.
E não para por aí! Cleópatra também tinha plena domínio de inúmeros idiomas, conversando e negociando com autoridades estrangeiras na línguas deles, o que obviamente lhe garantia um considerável poder de persuasão.
Desse modo, vejamos o que Plutarco nos diz sobre ela:
Sua beleza, considerada em si mesma, não era, dizem, incomparável a ponto de arrebatar de espanto e de admiração logo à primeira vista. Mas sua presença possuía tantos atrativos que era impossível resistir a ela. (…) Sua língua, que usava com grande facilidade, como um instrumento de várias cordas, pronunciava igualmente bem várias línguas diferentes.
Schwentzel, Christian-Georges; Cleópatra ; tradução de Paulo Neves. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2013.
O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA É eMPODERADOR
É possível que sua aparente desvantagem, a beleza modesta, tenha lhe servido de incentivo para que buscasse afirmar sua personalidade por outros meios. Afinal de contas, se uma pessoa, homem ou mulher, seduz naturalmente, porque ela se esforçaria tanto em moldar uma personalidade fascinante? Assim, não seria mais fácil simplesmente se deixar contemplar por olhos admirados, tal qual uma estátua grega de Afrodite?
Essa é a magia de uma psiquê exuberante, isto é, transformar uma vulnerabilidade em possibilidade para se fortalecer. Isso traz a oportunidade de explorar a si mesmo e descobrir novas habilidades. Dessa forma, Cleópatra empoderou a si própria, e o seu exemplo de vida convida todas as mulheres a fazerem o mesmo.
∗Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
COMO FUNCIONA O ARQUÉTIPO DA ClEÓPATRA?
Porém, a inteligência, por si só, pode não ser uma qualidade, porque isso vai depender de como cada um utiliza o seu conhecimento.
Parece confuso? Pois bem, eu explico: uma pessoa ao mesmo tempo insegura e inteligente pode se valer de sua inteligência para menosprezar os outros.
Dessa maneira, muita vezes, algumas pessoas inseguras precisam compensar esse sentimento desconfortável sobre si mesmas por meio de um (falso) sentimento de superioridade. E como elas alcançam esse sentimento de superioridade? Desdenhando dos outros.
Esse comportamento só alimenta uma relação disfuncional com os outros. Então, se essas pessoas inseguras e disfuncionais passam a sofrer críticas, elas entram num modo defensivo.
É mais fácil, e não exige a desagradável tarefa de refletir sobre suas questões íntimas. Dizem coisas como “eles têm inveja de mim”, ou ainda “eles são preconceituosos”.
O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA: SEU CHARME PESSOAL
Se Cleópatra tentasse humilhar Júlio César, por exemplo, ela conseguiria conquistar o seu amor e estima? É claro que não. Além de fracassar no amor, também fracassaria na politica, sendo executada e colocando seu reino em confronto com o poderoso arsenal militar dos romanos.
No entanto, não confundam, já que não estou falando sobre subserviência, pois isso não seria capaz de arrebatar o coração de Júlio César.
Estou tentando mostrar a diferença entre instrução formal, a saber, informações sobre o mundo em que vivemos, e inteligência emocional e interpessoal.
Só que Cleópatra tinha os dois tipos de inteligência! Assim, o “pulo do gato” está no fato de que Cleópatra transformou seu saber refinado dos gregos antigos no seu charme pessoal.
A MAGIA SECRETA DO ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA
Mas esse saber não assustava os homens poderosos de seu tempo. E como ela fazia isso?! Ora essa, com a sua personalidade persuasiva e sedutora! Eis a magia secreta de Cleópatra!
Talvez com essa explicação um pouco mais detalhada as leitoras e leitores consigam ter um vislumbre da dimensão do poder de Cleópatra.
Contudo, a rainha egípcia não se humilhava perante os homens poderosos de seu tempo, porque assim ela seria apenas mais uma. Todavia, também não os enfrentava diretamente, já que seria uma completa idiotice para si e o seu amado Egito.
O caminho de Cleópatra não era nem um, nem outro, e sim uma via alternativa e extremamente inteligente, ou seja, o seu jeito de ser: carismático, vibrante, sedutor, envolvente, gracioso, doce e apaixonante!
O ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA: SEDUÇÃO, INTELIGÊNCIA, AMBIÇÃO E PODER
Porém, Cleópatra não seduzia involuntariamente, ela tinha um propósito em vista. Na verdade, era uma motivação digna de uma rainha, a saber, não apenas garantir a segurança e prosperidade de seu reino na África, como também a formação de um novíssimo império, por meio da união política de Roma com o Egito.
Quando Alexandre, o Grande, morreu, após uma vida de ascensão meteórica, o seu colossal império havia se fragmentado em reinos menores, sendo um deles o próprio Egito, onde a dinastia de Ptolomeu havia se implantado.
Uma nova era havia se iniciado, um período histórico chamado de helenismo. O helenismo nada mais é do que a difusão cultural dos valores gregos pelos territórios assenhorados por Alexandre.
É nesse pano de fundo que Cleópatra se insere. Ela tinha uma consciência cristalina de suas origens, um rebento de nobre estirpe. Cabia a ela a missão de reviver a grandeza do helenismo, que havia ficado no passado.
Em outras palavras, Cleópatra sabia de onde veio e para onde queria ir. E mais, ela já havia traçado um caminho para chegar aonde ela tanto almejava. Esse caminho não era senão instrumentalizar o seu poder de sedução pessoal para fins políticos, isto é, sedução como arma política.
O FASCINANTE ARQUÉTIPO DA CLEÓPATRA: UMA MULHER SEDUTORA E INTELIGENte
Diante de tamanha ambição, ela precisaria de um conjunto muito bem desenvolvido de habilidades pessoais. Contudo, Cleópatra não fez feio. Desse jeito, subjugou Júlio César pelos dotes do amor, não apenas o afastando de sua esposa oficial, como também concebendo um filho dele. Filho esse que seria o herdeiro de seu grande projeto político.
Quando Júlio César fora assassinado, voltou sua atenção para Marco Antônio, e repetiu com graça e engenhosidade a mesma artimanha. Enlaçou o general romano com os seus encantos, de modo que ele caiu perdidamente apaixonado por ela. Consequentemente, o enlace também gerou frutos, um casal de gêmeos. Logo, Marco Antônio renegou sua esposa em Roma e também suas responsabilidades de homem de Estado, o que lhe rendeu amargas derrotas no campo militar.
Nesse caso específico, a paixão desmedida de Marco Antônio o apequenou. Não obstante, esse foi um efeito colateral adverso, que não ajudava Cleópatra em seus projetos, uma vez que ela precisava de um homem forte ao seu lado, pois os inimigos eram muitos e poderosos. Todavia, já estamos falando sobre o lado sombra do arquétipo de Cleópatra. Esse é um assunto que ficará para um próximo post.
O TRISTE FIM DE CLEÓPATRA E MARCO ANTÔNIO
Mais tarde, quando Otávio Augusto havia derrotado as tropas de Marco Antônio, este, humilhado perante seu rival e envergonhado demais para voltar aos braços de Cleópatra, encontrou escapatória no trágico suicídio.
Contudo, Cleópatra ainda não havia sido totalmente vencida. Por isso mesmo, envaidecido de suas próprias vitórias militares, Otávio Augusto foi pego desprevenido na última artimanha da rainha.
Os planos dele eram levá-la acorrentada do Egito para Roma, para que ela fosse exposta como um troféu de guerra, e passasse pela humilhação final de ser uma prisioneira política, saciando o desejo de vingança do povo romano. Porém, caberia à picada de uma serpente libertá-la desse destino, que, para ela, seria pior que a morte.
Dessa forma, acuada e vendo que Otávio não se rendia aos seus amores, Cleópatra teve o sangue frio para enganar os guardas que tinham como missão mantê-la com vida. Por consequência, ela fez com que passasse pela vistoria um inocente cesto de figos. No entanto, encontrava-se nele uma áspide (cobra venenosa). Dessa maneira, Cleópatra teve o mesmo fim de Marco Antônio, isto é, o suicídio.
De qualquer modo, ainda que o fim tenha sido trágico, é inegável que Cleópatra tenha alcançado sucesso em suas investidas amorosas. Afinal de contas, nem tudo estava sobre o seu controle, como certas circunstâncias que favoreceram Otávio Augusto. Assim, não há dúvida de que essa impotência frente a situações maiores do que nós e que não controlamos é uma lição de humildade. Apesar disso, vale ressaltar que, ao longo de toda a história da humanidade, nenhum outro personagem histórico conseguiu manejar tão habilmente paixões privadas com assuntos de Estado. Nisso consistia a genialidade de seus estratagemas e artimanhas.
Em suma, todo o poder do Arquétipo da Cleópatra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ARQUÉTIPO DE CLEÓAPATA
Por último, mas não menos importante, temos que falar sobre como ativar o potencial dessa arquétipo.
- Primeiro, faça uma meditação de relaxamento.
- Em seguida, mentalize a imagem de Cleópatra, procurando se conectar com as suas qualidades.
- Certamente, baixar papéis de parede de Cleópatra, no computador ou celular, ajuda bastante.
- Mas lembre-se, as habilidades já estão em nós, como potencial a se desenvolver.
- Ainda assim, cultive diariamente sua intenção em fortalecer essa energia.
- Por fim, caso tenha alguma dúvida, confira um post com explicações detalhadas sobre o poder dos arquétipos aqui.
Ufa! Esse post já cresceu demais! Desse modo, vamos chegando ao fim. No entanto, voltaremos a falar sobre o Arquétipo da Cleópatra em outras oportunidades, pois há muitas facetas a explorar.
Então, o que acharam do post? Não esqueçam de comentar e de nos seguir nas redes sociais! Elogios, críticas e sugestões são muito bem-vindos! Até à próxima, pessoal!
*Imagem destacada no início desse post: Imagem de Oliana Gruzdeva por Pixabay.
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